domingo, 29 de novembro de 2009

Passado & Presente




Quando olhamos para trás, ou seja para o passado, percebos que muitas coisas ficaram escondidas de baixo de uma leve camada de poeira, amigos esquecidos, acontecimentos importantes que se perdem na memória, palavras amargas que voçe disse, aventuras, machucados e uma longa lista de coisas, pessoas e fatos que por simples capricho do "Snr.Tempo" acabam se esmaecendo, transformando-se de brilhante e belo objeto a objeto guardado em um canto qualquer ofuscado pelo pó.
A noite de sábado prometia, umas cervejas, cigarros,bate papo com amigos, uma música boa (MPB um Reggae) quem sabe uma companhia diferente, meia dúzia de beijos uma dança e umas mentiras sussurradas, mas para minha surpresa o inesperado aconteceu.
O "Snr. Destino" se encarregou de desfazer o que caprichosamente e com perfeição o "Snr. Tempo" havia feito. Reencontrei em uma destas esquinas da vida um antigo amigo de Escola, especificamente da 8ª série, o bonitinho, que todas e todos desejavam o garoto descolado e popular.
Um reencontro desses trás alguns prejuízos, afinal não é fácil (para ninguém pelo menos eu acho) olhar para treze anos de vida lá atrás, e não sentir uma verdadeira crise de identidade agora.
Umas cervejas a mais uns cigarros de menos e muitas palavras, e pronto o palco armado, verdadeiro acerto de contas entre adolescentes, ridículo e necessário, ou seria desnecessário e ridículo? Na verdade me pergunto isso hoje, curtindo a ressaca no domingo, e com a certeza de que aquela adolescente de treze anos atrás que partiu o coração do menino mais descolado da Escola, acabou fazendo novamente e da mesma maneira tudo de novo, só que desta vez de pileque.
A verdade as vezes dói, mas é com ela que nos defendemos de paixões mal resolvidas. Não vou negar que o pedido de um beijo não tenha me despertado a vontade, aquela de treze anos atrás que foi sufocada pelos caprichos de uma adolescente extremamente revolucionária que estava se lichando pro playboy da Escola. Mas se essa adolescente já não existe, ao menos escutei em bom tom que depois dela sobrevive uma mulher decidida, caprichosa e ainda revolucionária que nunca será capaz de se importar com os sinceros sentimentos de alguém. De minha parte realmente não me importo com os desejos frustrados da adolescência de um homem que hoje para mim continua o mesmo playboyzinho de treze anos atrás.
Uma coisa ao menos ficou desta noite de sábado, a certeza de que o passado sempre volta, e as paixões mal resolvidas de ontem podem se transformar nos recalques do presente. Não me arrependo se o beijo que deveria ter acontecido a treze anos atrás não aconteceu agora. Um dia quem sabe aconteça, ou quem sabe este dia não aconteça jamais nesta encarnação.
Mas esta paixão adolescente, não pode sobreviver em uma vida adulta, e os desejos do passado nem sempre são satisfeitos no presente, as vezes é melhor que permaneçam empoeirados em um canto qualquer de uma sala pouco visitada, trancada com muitas chaves, escura e isolada, em uma parte desta enorme casa de vários compartimentos chamada coração.

domingo, 22 de novembro de 2009

Ser, estar, permanecer...


Diário de Pandora
23/11/2009

São inúmeras as conversas do fim de semana, a casa sempre cheia, amigos por todos os lados, morar só tem suas vantagens, a vida se descomplica quanto ás regras, mas com o tempo se descobre que até para não te-las (as regras) é preciso criar outras que ajudem a aboli-las. Complicado? Nem tanto, quando percebemos que sem as regras, mesmo que anárquicas, nenhuma sociedade por mais primitiva que seja sobrevive. Minhas regras são poucas mas simples de serem obedecidas, a primeira regra é quebre todas as regras, ousar é preciso mesmo sabendo conscientemente que para toda ousadia existe uma punição, pelo menos no caso de James foi assim, ele ousou, aventurou, e foi punido, mas considerando a grandiosidade daquele espírito "animal" ele bem que partiu feliz, conheceu o "fim da rua" desejo antigo e camuflado nos seus olhos azuis, desejo este que lhe custou as sete vidas belas de um ser travesso.
Minha segunda regra é chore sempre que tiver vontade, mesmo que o idiota do seu melhor amigo fique rindo de se espocar, ao te ver desconsolado dentro de um buraco, ás 22 horas de uma noite de sábado no quintal da sua casa segurando uma pequena caixa, contendo o seu animal de estimação morto (Seria cômico se não fosse trágico, ou será, seria trágico se não fosse cômico). A terceira regra consiste em nunca ir ao "final da rua",lá podem estar contidos todos os mistérios irreais da maldade humana, e contra a maldade (veneno poderoso) temos que nos proteger. Enfim, minha quarta e última regra é, ame, mas ame muito, até seu coração espancado e vagabundo não aguentar mais de tanto sofrer e decidir sossegar descansando nos braços de Nix na eternidade sem fim.
Quatro regrinhas fáceis de serem seguidas, existentes no meu mundo que chamo de Caos Magnífico.
James seguiu todas elas, e foi feliz! Esqueceu-se apenas de seguir aquela (a terceira) que dizia: James, para o fim da rua não!!!
Porém, se não quebrasse essa regra que sentido teria a primeira? Contraditória mesmo esta vida feita de ir e vir, de ser, estar e permanecer...mesmo que, In Memorian.
Por: Pandora In Memorian: James Mekétréf Frederico

quarta-feira, 18 de novembro de 2009


Não faz nem vinte minutos que você me deixou aqui no café, que recusei o seu pedido,
dizendo que jamais escreveria para você a história de minha vida mortal, como me tornei uma vampira — como só encontrei Marius anos depois de ele ter perdido a vida humana. Agora, aqui estou eu com seu caderno aberto, usando uma das canetas de ponta
fina e tinta indelével que você me deixou, encantada com a pressão sensual da tinta negra no papel caro, branco e imaculado.
Naturalmente, David, você me deixaria uma coisa sofisticada, uma página
convidativa. Este caderno de capa de verniz escuro, não é?, lavrado com um desenho de
rosas exuberantes, sem espinhos mas com uma bela folhagem, um desenho que só em
última análise significa Desígnio porém revela uma autoridade. Os escritos contidos nessa bela e pesada encadernação contarão, diz esta capa.
As páginas grossas têm linhas azul-claras — você é prático, pensa em tudo, e
deve saber que nunca pego da pena para escrever coisa alguma.
Até o barulho da caneta tem seu encanto, o ranger agudo que lembra bastante
aquele das melhores penas da Roma antiga quando eu as usava nos pergaminhos para
escrever cartas a meu pai, quando eu registrava num diário os meus lamentos... ah, aquele barulho. Só o que está faltando aqui é o cheiro da tinta, mas temos a boa caneta de plástico que durará muitos volumes, deixando uma marca tão fina e profunda quanto eu quiser fazer.
Estou pensando em seu pedido para escrever. Você vê que conseguirá algo de
mim. Vejo-me cedendo, quase como uma de nossas vítimas humanas cede a nós, talvez
descobrindo enquanto a chuva continua caindo lá fora, enquanto continua o vozerio aqui no café, que acho que isso pode não ser a agonia que imaginei — recordar mais de dois mil anos — mas quase um prazer, como o próprio ato de beber sangue.
Agora quero alcançar uma vítima que, para mim, não é fácil de dominar: meu
passado. Talvez essa vítima fuja de mim numa velocidade equiparável à minha. Seja como for, agora estou procurando uma vítima que jamais enfrentei. E há aí a emoção da caçada, isso que o mundo moderno chama de investigação.

Autor(a): Anne Rice "Pandora"